O canal SPORTV veiculou uma longa reportagem sobre o crack no esporte. Optou-se - o que é compreensível em vista de ainda ser hegemônico - por enfatizar o olhar médico e neuroquímico, quando do ponto de vista da competência especializada. De todo modo, meu livro - "Crack - reflexões para abordar e enfrentar o problema" - foi generosamente citado. Agradeço à equipe. Achei, ainda, bastante interessante e esperançosa a segunda parte do programa que se deteve no cuidadoso registro de encontros e experiências significativas que favoreceram a alteração de algumas das trajetórias. Um contraponto ao enfoque trágico, comum ao tratamento da questão.
http://globotv.globo.com/sportv/sportv-reporter/t/ultimos/v/sportv-reporter-a-luta-contra-o-crack/2451776/
Crack: saberes e reflexões
Este é um blog criado para a discussão coletiva sobre uma importante questão da atualidade que são as relações de consumo de crack e os saberes que vem sendo construídos sobre o tema
segunda-feira, 18 de março de 2013
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Carta Aberta.
Carta Aberta escrita pela equipe do CRATOD - SP (Centro de Referência de Álcool e Outras Drogas) sobre a gravidade do que está acontecendo nesta gestão Alckmin.
Carta Aberta
Ao longo da história da humanidade é comum que povos em nome do progresso e desenvolvimento dizimem civilizações e culturas.
Guardadas as devidas proporções, estamos vivendo uma situação parecida no Cratod. Em nome da “internação compulsória” o Cratod foi ocupado dia 21 de janeiro pela secretaria da saúde e teve sua diretora destituída . Essa ocupação ocorreu como se o prédio estivesse vazio , como se não houvesse nenhum profissional já trabalhando, e não existisse um trabalho de anos, como se já não houvesse uma estrutura montada e em bom funcionamento. Seus profissionais foram completamente desconsiderados, seu conhecimento e trabalho ignorados.
A nova equipe entra e sai das salas sem se identificar , sem se apresentar como se estivesse na sua casa e não devesse nenhuma explicação. O trabalho existente está sendo desmanchado.
O Centro de Referência com todos os ambulatórios, atendimentos, oficinas de regime intensivo e de semi intensivo, parcerias com Universidades e capacitações profissionais oferecidas para o Brasil todo foram desconsideradas, como se não importasse realmente. As oficinas existentes formam “ suspensas” para podermos dar conta da demanda de internação apenas, sem considerar o tratamento das pessoas dependentes. Nesta hora servimos como mão de obra barata para “tapar buraco”, o qual aliás, sem a avaliação inicial é enorme. Voltou a se fumar nas dependências do prédio, antes pioneiro na lei de proteção ao não fumante, no ambiente livre de tabaco e atendimento ao tabagismo.
Em nenhum momento foi considerada a parceria, ou alguém nos perguntou o que achávamos , o que queríamos, o que pensávamos. A equipe foi considerada, sem julgamento, de incompetente. Infelizmente o funcionário público carrega esse rótulo de incompetente, encostado e vagabundo, mesmo se trabalhos brilhantes são realizados apesar da máquina pública. No serviço público tudo é feito para não funcionar , apesar disso muita gente se esforça e a coisa funciona!
O tratamento ambulatorial visando a reinserção social está sendo gravemente afetado. O prédio reformado e bonito (mérito do Cratod) voltou a ser um centro de internação como há 30 anos atrás, com superlotação. Que retrocesso!
Não vamos nem entrar no mérito da questão se a internação compulsiva ... ops “compulsória” é necessária neste momento. Estamos questionando como as coisas estão sendo feitas. Uma equipe que não consegue nem respeitar seus colegas de profissão , conseguirá respeitar a população? Difícil...
O trabalho com dependência química começou aqui há 23 anos quando foi criada uma equipe para trabalhar com os pacientes alcoolistas . Uma médica , muito sensata, formou uma equipe para atender ambulatorialmente os pacientes alcoolistas uma vez que o numero de internações dessa população estava crescendo. Iniciou-se o trabalho que aos poucos foi construído baseado no prática e no estudo. A equipe foi crescendo e se aperfeiçoando, o conhecimento se aprimorando . Essa pequena semente vingou, brotou , se transformou numa grande árvore frondosa que dá sombra e frutos . Infelizmente não querem ver isso.
Como centro de referência, o CRATOD atua no tratamento, na formação de recursos humanos, na prevenção.
Criado em 2002, por decreto do então e atual governador Geraldo Alckimin , tem se constituído como um pólo formador de recursos humanos especializados para todo o Estado de São Paulo, desenvolvendo e testando tecnologias de atendimento aos dependentes de substâncias psicoativas.
Em relação ao tratamento, semanalmente, passavam( até o início de janeiro de 2013) aproximadamente 450 pacientes no CRATOD nos regimes intensivo, semi-intensivo e não intensivo. Alguns pacientes permaneciam meio período (manhã ou tarde),outros passavam o dia todo e alguns até pernoitavam quando em situação de risco.Temos 10 leitos de observação e pernoite.Atualmente esses leitos são ocupados apenas com pessoas “esperando vagas de internação”. O índice de internação no último ano foi de 4 % dos pacientes e todas foram internações voluntárias. A população atendida é 80% de moradores de rua, e o tratamento viso a recuperação, abstinência e reinserção social.
Ao longo desses anos, o CRATOD teve grande visibilidade na mídia levando o nome do governo e da Secretaria da Saúde a ponto de ser premiado com troféu por ser uma das instituições do governo que mais visibilidade positiva.
O CRATOD foi extremamente importante para a discussão e posterior lei que regula o fumo nos ambientes fechados de uso coletivo. Capacitamos a rede estadual para o atendimento aos tabagistas, além de sermos a Coordenação Estadual para o Controle do tabagismo junto ao INCA.
No papel de centro de referência, reconhecido até fora do país pelas inúmeras visitas de profissionais da área da dependência, também no estado, fomos , por vezes solicitados como supervisores e orientadores de serviços municipais.
No papel de prevenção realizamos, semanalmente, ações de prevenção nas praças públicas, estações de trens e metrôs e outros espaços de grande circulação de pessoas levando informação, distribuição de folhetos, preservativos e aplicando instrumentos validados para o rastreamento de uso de substâncias psicoativas (ASSIST, Fagerstrom). Após a detecção do uso utilizamos a técnica de Intervenção breve e fazemos os devidos encaminhamentos para aqueles que não chegaram,ainda, aos serviços de saúde e que apresenta uso abusivo ou dependência.
Chegou a ora da derrubada. Sem escrúpulos, sem respeito, sem ética, sem consideração . Em nome de saber o que é melhor . Saiam de perto. Madeira...
Equipe do Centro de Referência de Álcool Tabaco e Outras Drogas. CRATOD.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Fique ligado!
Lancei recentemente meu livro - "Crack: reflexões para abordar e enfrentar o problema" - pela editora Civilização Brasileira.
Aqui vão dois trechinhos:
"O grau de envolvimento e de agravamento da relação com a substância varia sensivelmente e só pode ser avaliado de indivíduo para indivíduo. Pode-se dizer que o crack - por si só - não determina nada, mesmo sendo uma substância bastante potente".
"O que é marcado como dejeto, lixo - além de imprestável -, perde qualquer marca distintiva que lhe confira alguma singularidade. Para quem conhece um pouco da realidade das cracolândias e não raro observa certas medidas traçadas para dar conta da questão pode perceber que tais medidas tendem a seguir a mesma lógica da indiscriminação, em que todos (lixos) parecem padecer do mesmo estatuto de relação com a droga, supostamente possuem as mesmas necessidades e aspiram aos mesmos projetos".
Crack: reflexões para abordar e enfrentar o problema.
Uma contundente análise sobre o consumo do crack no Brasil
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quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Opinião: internações involuntárias
"Se a família pode fazer isso, e há controvérsias, o poder público não pode. Fora da crise, prevalece a vontade do indivíduo" (Januario Montone, Secretário Municipal de Saúde).
De fato ainda há muitas limitações. Agora, concordo com o posicionamento e considero bem estranho o "dado" de que 70% (de uma amostra de 151) nunca receberam oferta de tratamento. Na cracolândia? Onde diariamente transitam profissionais e voluntários das mais variadas instâncias? Parece coisa de quem não conhece o território e não sabe o que acontece no seu dia a dia.
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/1145552-tendenciasdebates-combate-ao-crack-missao-de-quem-nao-desiste.shtml
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Pequenas Notas: 11. retratos
Como diria o Agamben este é o retrato da política moderna já que ela implica o desaparecimento da distinção entre polícia e política. Neste sentido, as ditas políticas de assistência e saúde se confundem com o combate e a luta contra o inimigo. Sãos os homines sacri contemporâneos, destituídos de qualquer valor político, vidas matáveis.
"A vida que, com as declarações dos direitos humanos tinha-se tornado o fundamento da soberania, torna-se agora o sujeito-objeto da política estatal (que se apresenta, portanto, sempre mais como "polícia"); mas somente um Estado fundado sobre a própria vida da nação podia identificar como sua vocação dominante a formação e tutela do "corpo popular" (Giorgio Agamben).
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Fique Ligado!
Essa discussão é bastante necessária: a internação compulsória como política de intervenção para usuários de crack em situação de rua.
http://migre.me/9RGpQ
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