sábado, 16 de julho de 2011

Pequenas Notas: 9. cracolândias e vida nua

O filósofo Giorgio Agamben, em seu livro, "Homo sacer: o poder soberano e a vida nua", nos oferece a possibilidade de aproximar algumas de suas idéias à realidade das cracolândias brasileiras.

Vamos partir da figura do homem - lobo, o lobisomem: ser híbrido que, na sua origem, foi banido da comunidade, deixando de encontrar nela apoio, acolhida ou mesmo abrigo.

Não se trata, no entanto de uma existência puramente animal sem qualquer relação com a cidade e a cultura.

O homem lobo, aproximado ao homo sacer (antiga categoria do direito romano) encontra-se entre a natureza ferina  e o homem, numa espécie de zona de indistinção - nem homem nem fera. Habita "paradoxalmente ambos os mundos sem pertencer a nenhum".

Para Agambem, a vida nua é precisamente este limiar entre vida biológica, natural e a vida investida pela cultura. O homo saucer - representante da vida nua - podia ser morto por qualquer um impunemente, pois sua morte não se enquadrava na categoria de assassinato.

Transposto para os tempos atuais, estamos falando de uma vida descartável, "despolitizada", decaída e sem nenhum quinhão de reconhecimento social.

Alguma semelhança com como são tratados os habitantes das cracolândias brasileiras?