sábado, 17 de julho de 2010

Pequenas notas: 5. crack e atenção integral à saúde

Alguns estudos têm trazido à discussão perspectivas interessantes e mais abrangentes no que tange às relações de dependência de crack.

Por exemplo, apresentando achados relativos à estreita conexão entre uso desta substância e fenômenos como pobreza, racismo, falta de respaldo legal e/ou péssimas condições de trabalho (dentre outros).

Também são alvo de preocupação os inúmeros impecilhos e barreiras de acesso à diversos serviços de saúde e assistência social, e a precária acolhida que os usuários recebem, sendo não raro hostilizados.

Neste sentido, para além das características farmacológicas do crack, é importante atentarmos para fatores econômicos, sociais e estruturais que contribuem fortemente para o agravamento da condiçao de dependência da droga.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Fique ligado!

Existe um discurso vigoroso, constituído historicamente, que se funda e se desenvolve a partir de dois grandes alicerces de pensamento e conduta: um, de tradição norte-americana que desde o início do séc XIX voltou-se ao intolerante combate (por intermédio de táticas militarizadas) do comércio e utilização de uma série de substâncias que redundassem num uso abusivo; e outro, que adveio a partir da fundação das Nações Unidas (1945) objetivando reforçar a formulação de políticas que se destinassem ao fortalecimento do controle internacional às drogas, num esforço de erradicação das mesmas.

A priorização do foco na redução da oferta e da demanda a partir de mecanismos de combate, repressão e criminalização do cultivo, produção, distribuição, comércio, posse e consumo de drogas ilícitas; é estimulada pelo ideal de “uma sociedade sem drogas” (discurso dominante); uma vez que as mesmas, segundo esta máxima, representariam uma séria ameaça aos princípios da civilidade.

É importante problematizar a magnitude com que estas idéias (extensão da repressão e intolerância ao narcotráfico para o usuário e sua, muitas vezes, impossibilidade de abster-se da droga como que "por decreto") alimentam o imaginário social brasileiro e influenciam a forma como, por exemplo, o uso abusivo do crack e o próprio usuário da droga são vistos e abordados. Além disso, torna-se necessário indagar em que medida estas mesmas concepções também podem servir de base para que se justifique a adoção de abordagens “tecnicistas” voltadas para a re-educação moral e social do usuário (num endereçamento adaptacionista) ao invés de se oferecerem espaços de fala e escuta em que se priorize a construção de caminhos e escolhas singulares (autorais) que venham a favorecer a modificação da relação de exclusividade com a droga.

terça-feira, 6 de julho de 2010

domingo, 4 de julho de 2010

Fique ligado!

Não é incomum que no debate sobre o consumo intensivo de crack se faça uma associação muito direta entre o uso da droga e ocorrência de episódios violentos.

Este tipo de articulação acaba reproduzindo um modo de pensar que estigmatiza o dependente de crack e atribui a ele ou a ele mais a droga a propriedade de serem violentos. Como se indivíduo e crack "por si só" já fossem elementos suficientes para a propagação da criminalidade. Esta é uma premissa equivocada.

Existe sim um CONTEXTO do mercado da droga , por exemplo, que está em constante disputa (violenta) pela supremacia do negócio. Um mercado que tende a ser intransigente em sua organização e não perdoa, dentre outros, práticas de endividamento. Não há acordo para dívidas não pagas e, em muitos casos, acerta-se com a própria vida do usuário. Há também os confrontos entre dependentes e a polícia que podem resultar em violência (uma vez que muitas das ações policiais ainda são orientadas dentro de uma perspectiva estritamente repressiva).

Não há indícios de que o usuário de crack apresente um temperamento preexistente de cunho violento e que, com a droga, esta predisposição se efetue. Também não há o que justitifque pensar no crack "em si" (por seus efeitos farmacológicos) como produtor de atos criminosos.

O que se pode dizer, mais uma vez, é que o CONTEXTO de consumo tende a requerer episódios repetitivos de uso do crack. Quando os recursos financeiros se esgotam há uma situação favorável (em vista da urgência pela droga) para o engajamento em ações fora do âmbito legal que possam financiar a continuidade da utilização de crack (e não o acúmulo de bens!).

Fique ligado, pois é necessária uma mudança de olhar deixando de se incorrer em julgamentos morais que estreitam a reflexão.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Pequenas notas: 3. Perfil brasileiro

Segundo pesquisas desenvolvidas no país, o perfil do usuário brasileiro de crack é predominantemente do sexo masculino, adulto jovem (entre 20 e 30 anos), solteiro, inserido no mercado informal de trabalho ou em situação de desemprego.

Verifica-se baixa escolaridade (ensino fundamental ou menos) e modesta condição sócio-econômica.

Atualmente especula-se a respeito da presença de padrões intensificados de consumo também entre indivíduos de classes sociais mais abastadas, baseado nas demandas dos que tem se apresentado para tratamento.

Entretanto são poucos os indicadores oficiais e portanto os elementos que dispomos para dimensionar a magnitude da questão envolvendo o crack, em termos de alcance e especificidades; incorrendo num certo engessamento do perfil (sem que se possa ampliá-lo).

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Pequenas notas: 2. Os efeitos do crack

O crack produz intensa sensação de prazer, euforia e poder, além de reduzir a necessidade de sono e alimentação.

Não é raro que o usuário sinta-se, sob o efeito da substância, ansioso, agitado, com medo, tenha alucinações e ideação paranóica (sensação de estar sob acirrada vigilância ou prestes a ser capturado).

O término do efeito é acompanhado de grande fissura (vontade de usar mais a droga).

Vale destacar que o consumo de crack pode ocasionar dependência mais rapidamente do que outras substâncias mas isso não equivale a dizer que todos aqueles que fazem uso dele são necessariamente dependentes.