segunda-feira, 12 de julho de 2010

Fique ligado!

Existe um discurso vigoroso, constituído historicamente, que se funda e se desenvolve a partir de dois grandes alicerces de pensamento e conduta: um, de tradição norte-americana que desde o início do séc XIX voltou-se ao intolerante combate (por intermédio de táticas militarizadas) do comércio e utilização de uma série de substâncias que redundassem num uso abusivo; e outro, que adveio a partir da fundação das Nações Unidas (1945) objetivando reforçar a formulação de políticas que se destinassem ao fortalecimento do controle internacional às drogas, num esforço de erradicação das mesmas.

A priorização do foco na redução da oferta e da demanda a partir de mecanismos de combate, repressão e criminalização do cultivo, produção, distribuição, comércio, posse e consumo de drogas ilícitas; é estimulada pelo ideal de “uma sociedade sem drogas” (discurso dominante); uma vez que as mesmas, segundo esta máxima, representariam uma séria ameaça aos princípios da civilidade.

É importante problematizar a magnitude com que estas idéias (extensão da repressão e intolerância ao narcotráfico para o usuário e sua, muitas vezes, impossibilidade de abster-se da droga como que "por decreto") alimentam o imaginário social brasileiro e influenciam a forma como, por exemplo, o uso abusivo do crack e o próprio usuário da droga são vistos e abordados. Além disso, torna-se necessário indagar em que medida estas mesmas concepções também podem servir de base para que se justifique a adoção de abordagens “tecnicistas” voltadas para a re-educação moral e social do usuário (num endereçamento adaptacionista) ao invés de se oferecerem espaços de fala e escuta em que se priorize a construção de caminhos e escolhas singulares (autorais) que venham a favorecer a modificação da relação de exclusividade com a droga.

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