domingo, 4 de julho de 2010

Fique ligado!

Não é incomum que no debate sobre o consumo intensivo de crack se faça uma associação muito direta entre o uso da droga e ocorrência de episódios violentos.

Este tipo de articulação acaba reproduzindo um modo de pensar que estigmatiza o dependente de crack e atribui a ele ou a ele mais a droga a propriedade de serem violentos. Como se indivíduo e crack "por si só" já fossem elementos suficientes para a propagação da criminalidade. Esta é uma premissa equivocada.

Existe sim um CONTEXTO do mercado da droga , por exemplo, que está em constante disputa (violenta) pela supremacia do negócio. Um mercado que tende a ser intransigente em sua organização e não perdoa, dentre outros, práticas de endividamento. Não há acordo para dívidas não pagas e, em muitos casos, acerta-se com a própria vida do usuário. Há também os confrontos entre dependentes e a polícia que podem resultar em violência (uma vez que muitas das ações policiais ainda são orientadas dentro de uma perspectiva estritamente repressiva).

Não há indícios de que o usuário de crack apresente um temperamento preexistente de cunho violento e que, com a droga, esta predisposição se efetue. Também não há o que justitifque pensar no crack "em si" (por seus efeitos farmacológicos) como produtor de atos criminosos.

O que se pode dizer, mais uma vez, é que o CONTEXTO de consumo tende a requerer episódios repetitivos de uso do crack. Quando os recursos financeiros se esgotam há uma situação favorável (em vista da urgência pela droga) para o engajamento em ações fora do âmbito legal que possam financiar a continuidade da utilização de crack (e não o acúmulo de bens!).

Fique ligado, pois é necessária uma mudança de olhar deixando de se incorrer em julgamentos morais que estreitam a reflexão.

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